Panela de pressão. Suportando a ira cá dentro. Sentindo o sangue borbulhar. O suor pingando e escorrendo pelo rosto diante de tanta quentura. Prestes a explodir, a se render. Chegou num ambiente em que está só. Os olhares de compreensão já não os são mais. Cansaram. Agora gozam dela. Acham que essa panela é velha demais pra pegar pressão. Que essa panela traz mais enxame do que força de vontade. A panela apenas se entrega. Apenas se deixa vencer. E enquanto acreditam que ela está velha demais para pegar pressão, deixam-na no fogo, sem preocupar-se com o tempo. E então ela vai suportando calada a pressão de ser uma panela de pressão. Até que o tempo passa e chega ao seu limite. Buuumm!
Velhos Clichês
segunda-feira, 1 de abril de 2019
domingo, 23 de setembro de 2018
Um bicho me mordeu
Rebelde sem causa
Tristeza sem motivo
Como posso sentir isso?
Tá tudo bem, tudo normal
Mas as vezes um bicho me morde
E fico mal.
Do nada me sinto virada
Do avesso e amassada
Como um pano maltrapilho
E sem motivo me pergunto
Por quê diacho me sinto assim?
Olho o mundo a minha volta
Erguida pelas pontas dos pés
Tentando olhar o mais distante
Percebo que meu umbigo
É um ponto tão minúsculo
Que desaparece na multidão.
E de tão pequena e fugaz
Que é minha existência
Em comparação ao universo
Me desapareço em meio
Ao meu completo caos.
Tristeza sem motivo
Como posso sentir isso?
Tá tudo bem, tudo normal
Mas as vezes um bicho me morde
E fico mal.
Do nada me sinto virada
Do avesso e amassada
Como um pano maltrapilho
E sem motivo me pergunto
Por quê diacho me sinto assim?
Olho o mundo a minha volta
Erguida pelas pontas dos pés
Tentando olhar o mais distante
Percebo que meu umbigo
É um ponto tão minúsculo
Que desaparece na multidão.
E de tão pequena e fugaz
Que é minha existência
Em comparação ao universo
Me desapareço em meio
Ao meu completo caos.
Devastação
Devastação
É o que se expande
Se espalha e se dilacera
Em minha pele.
De repete
Sinto um breu
Meus olhos taciturnos
Pairam sobre a distorção.
Estes olhos ardem
Com a acidez do ar
E a água devastada em mim
Transborda ao ar livre.
Vaza feito torneira quebrada
De pingo em pingo
Até que de repente tudo se aquieta
E o silêncio se faz rei.
É o que se expande
Se espalha e se dilacera
Em minha pele.
De repete
Sinto um breu
Meus olhos taciturnos
Pairam sobre a distorção.
Estes olhos ardem
Com a acidez do ar
E a água devastada em mim
Transborda ao ar livre.
Vaza feito torneira quebrada
De pingo em pingo
Até que de repente tudo se aquieta
E o silêncio se faz rei.
terça-feira, 21 de agosto de 2018
Anônima melancolia
Sabe quando algo desconhecido te atinge por dentro? Como um
resfriado que chega sem avisar, que transpassa no ar, invisível. Pois bem,
nesse instante um sopro de sentimento anônimo me atingiu em cheio, enquanto
apenas andava por aí. O sopro foi inspirado e se instalou em meu peito, se
alojou no espaço empoeirado que só fez espalhar mais poeira. Dimanam por meus
olhos e escorrem por minha face: o sopro misturado com poeira. Reconheço a
causa da tragédia, mas desconheço o motivo. No entanto, presumo que a poeira se
fez por longos anos em carne viva, até quase entupir as veias coronárias. E no
peito a poeira se multiplica e se aglomera, calcifica. O sangue já não é tão
vermelho, tem a cor estranha, “fubenta” pelo tom cinza do pó. Mas está dentro
da veia e camuflado pela pele alva. E por fora é tudo normal, quase não parece
um pré-infarto.
Cá estou
No fim das contas, nunca abandonei por completo a mania de escrever. Sumo por dias, semanas, meses, mas volto. Como cá estou, jogando palavras ao vento sem pretensão de serem lidas. Talvez seja um ritual que persiste por muitos anos, afinal, deu-se início aos 12 anos de idade, ainda tentando compreender a diferença da sonoridade do T e D. Por vezes retorno a me ler, a rever meus pensamentos, as ideias sem nexo, as opiniões que desfiz, aos esdrúxulos erros de português que até hoje tenho preguiça de corrigir, e aos meus próprios desencontros. Noto todos os contornos, linhas, expressões que expus, sempre com bastante intensidade, de quem segura o lápis em folha com tamanha força que quebra a ponta. Pois nos textos remei até à extremidade da minha alma, imersa num mundo abstrato, interior, alheia aos olhares de terceiros e ao mundo concreto. Escrevo, como alguém que está prestes a cair pela janela, segurando-se no rodapé, momento efêmero em que finjo ser escritora e não mais uma pessoa de vida medíocre, cotidiana, metódica.
segunda-feira, 20 de agosto de 2018
Eu sou tu
Como eu queria desenhar aquele teu sorriso estampado no rosto barbudo, os olhos comprimidos pelas bochechas vermelhas, sorriso incontrolável e de perfeita simetria, num dia de domingo a tarde. Como eu queria guardar o sentimento que senti ao te ver, embrulhado numa caixa de recordações. Ou melhor, mantê-lo vivo e dançante no peito. Como queria poder rever aquele sorriso sempre que precisasse, que a solidão tentasse se instalar, ou que uma novidade boa chegasse, ou simplesmente para reviver a nostalgia do momento. Porque és o amor que quero viver eternamente. É em ti que meu amor se renova e se firma mais bonito. Porque todos te enxergam em mim, como uma árvore de longas raízes. Porque tu sou eu, e eu sou tu.
segunda-feira, 11 de junho de 2018
Amor com gosto de fruta mordida
O amor no seu viés pragmático,
sem as pinceladas do romantismo do século XX. O amor como uma construção de um
objeto comum entre duas pessoas, sem uma perspectiva futurística de ideais,
como casamentos, casa e filhos. O amor que pensa no que é agora, mas sem pestanejar
sobre o amanhã, o qual pode ser nós, ou apenas eu e tu. O amor sem delimitação
de prazo, onde o “eterno” perpassa o domínio, feito areia que escorre pelos
dedos da mão. O amor que foge das amarras juvenis, dos relampejos fumegantes do
mundo excêntrico dos amantes. O amor que tem gosto de fruta mordida, que já se
sabe do gosto e textura que o carrega, que não se engana pela beleza do
desconhecido. Amor que lateja e percorre um caminho já conhecido ou presumido. O
amor que sabe quando ficar e quando ir, caso assim queira simplesmente partir. O
amor que não se prende em ameaças ou promessas, em meras suposições. O amor que
apenas é e vive, em sua pura essência de ser.
sexta-feira, 14 de julho de 2017
Translúcida
Translúcida, prestes a desaparecer. Vendo sem enxergar, quase um vulto. Perdendo o contato com o outro lado da linha. Ainda consegue me enxergar? Uma vez já conseguiu? Agora sou um quase nada. E agora já fui alguma coisa pra você. Status: transparente.
Permanecer
Meu querido. Ou melhor, querido.
Sem nenhum pronome possessivo.
Livre como deve ser.
Sem nenhuma pressa e sem certezas.
Seguindo o próprio ritmo do amor.
Sem pretensões, sem planos.
Apenas com a sensação plena de querer ficar.
Querido, sujeito maduro de barba e sabedoria.
Como pode meu Senhor existir coisa assim neste mundo?
Nem em meus melhores sonhos, quase utópicos, acreditei existir um ser igual.
Hoje, nesta realidade em que me encontro, meu único desejo é:
Permanecer.
Sem nenhum pronome possessivo.
Livre como deve ser.
Sem nenhuma pressa e sem certezas.
Seguindo o próprio ritmo do amor.
Sem pretensões, sem planos.
Apenas com a sensação plena de querer ficar.
Querido, sujeito maduro de barba e sabedoria.
Como pode meu Senhor existir coisa assim neste mundo?
Nem em meus melhores sonhos, quase utópicos, acreditei existir um ser igual.
Hoje, nesta realidade em que me encontro, meu único desejo é:
Permanecer.
Copo de vidro
Fragilidade. Feito um copo de vidro arranhado. Prestes a ferir e a quebrar. Com medo de derramar-se em fagulhas, precisa ferir, ameaçar, manter distância. Tudo como meio de manter-se estável, arranhado, mas em pé. O sangue que escorre da boca daquele que se sacia, mancha o corpo daquele que está prestes a quebrar. Penetra no arranhão já escancarado a olho nu, ande, dói. E o copo tenta medir qual a dor que dói mais: a de sentir o arranhão absorver o sangue amargo ou a de quebrar-se ao meio.
terça-feira, 11 de julho de 2017
Até quando?
O fim, palavra que soava tão distante e disforme, quase
fictícia entre nós. Hoje parece palpável, próxima, como uma roupa que me cabe
bem. Como em pouco tempo o eterno se desfaz em “até quando?”. O tempo variando
de infinito a ínfimo. As palmas que se entrelaçavam se desfrouxam, apoiam uma à
outra como se fosse um peso morto. O que era pra ser uma explosão de cólera se
desmancha em nada. Vazio que lateja cá dentro, sem um pingo de água que reste
para lacrimejar. Vazio, seco, breu. Isto que cá ficou, já me era esperado. Como
a carta de um conhecido que diz “até breve”. Sabia eu do buraco que havia em
mim que deixava escorrer de pingo em pingo. Hoje sou a própria cratera. Sou o
medo que sentia do futuro “fim”. A bomba relógio que estourou – “bruuum!”.
domingo, 21 de fevereiro de 2016
Desalento
Meu coração parece uma bomba preste a explodir. meus olhos cachoeira. minha mente um turbilhão. e nesse momento é tudo muito frágil. Estou só com meus medos. cara a cara. sem interferência alguma. Por que a noite é sempre muito longa. E o amanhecer é num piscar de olhos e latejar de cabeça. Tudo dói, uma noite mal dormida, uma alma em desalento e um peito escancarado. Volto os meus olhos ao relógio. Sei que dormir é necessário e o tempo está ao meu desfavor. Cubro-me de pés a cabeça, encolhida em meu corpo cansado, na esperança de escontrar abrigo.
quinta-feira, 9 de julho de 2015
Logo após o "boa noite"
Você a essa hora já foi dormir e ficou um vazio aqui. É que
minhas horas já estão acostumadas a sua companhia. Tá, não é que eu dependa de
você ou que me sinta um ser incompleto, mas é que você já
virou parte da minha rotina. E pra dizer a verdade, com você qualquer rotina é bem vinda.
quarta-feira, 8 de julho de 2015
Eu te ofereço...
Eu te ofereço meu primeiro e último pensamento do dia. Eu te
ofereço meu primeiro bom dia, acompanhado por um nome carinho. Eu te ofereço
minhas mais sinceras palavras escritas em prosa e poesia. Eu te ofereço todos
os traços e rabiscos à lápis no papel. Eu te ofereço as notas mais desafinadas
do meu violão velho. Eu te ofereço meu
livro favorito “o morro dos ventos uivantes”. Eu te ofereço todos os tons de aquarela.
Eu te ofereço as minhas melhores tentativas. Também te ofereço meu ombro amigo,
meu olhar cúmplice. Eu te ofereço o que há de mais belo e mais simples na vida.
Eu te ofereço o que houver de novo, e o de velho. Eu te ofereço um coração
cansado, mas que não perde a esperança. Eu te ofereço o que fui, o que sou e o
que serei.
Espero carinhosamente
que aceite, mas não tenha pressa, é que o amor chega de mansinho quando menos se espera.
segunda-feira, 6 de julho de 2015
Lei da reciprocidade
Eu comecei com a regra do recíproco, mas vi que a vida não
deve ser sempre assim. Quanto amor eu dava, tanto amor esperava receber. Até
que meu namorado entrou no embalo. O problema foi quando nos desentendemos, o
que é normal em qualquer relacionamento. E o que fiz de errado, dei espaço para
que a lei da reciprocidade fosse aplicada, ou seja, o mesmo erro ele poderia
fazer sem culpa. E qual seria a próxima reação? Seria um jogo infinito de
farpas. Ambos armados de forma igualitária, não haveria injustiças no amor. Mas
qual amor se sustenta com farpas? A reciprocidade como um tiro pela culatra.
Não precisou que o episódio se repetisse para que eu percebesse que a lei da
reciprocidade não sustenta o amor. Mais do que entregar o que recebemos, é
preciso fazer o melhor do que nos é dado. Nada por igual. Sem bate-e-volta. Sem
munições. Sei que tenho muitas falhas, farpas e um jeito por vezes marrento, de
antemão, já te peço desculpas, mas também peço que não me trate de forma igualitária,
recíproca, principalmente quando errar. Quando fazemos o bem a alguém, mesmo
que este não mereça, o bem retorna de alguma forma, infinitamente maior. É que
o amor tem que ser altruísta, sem que se perca o amor próprio.
Nossas diferenças
Meu bem, não o quero por nossas semelhanças. Não espero que nossas ideias ou gostos sejam iguais. Eu gosto de ler, você de pescar. Eu gosto de verde e azul, você de vermelho e preto, que combinam com seu time de futebol. Eu não gosto de esporte. Você não lê muitos livros. Você se entrega aos bons ventos, eu desconfio deles. Eu questiono o porquê existimos, você prefere que nem tudo tenha uma resposta. Eu vou no que é profundo, você me traz à praticidade. Mas sabe de uma coisa? Respeito-o ainda mais por nossas diferenças, pois pessoas iguais nos deixam estáticos. Então prefiro buscar pela diferença que me torne uma pessoa melhor.
domingo, 5 de julho de 2015
Óculos
O mundo estava um borrão colorido. Um lindo borrão de luzes. As
linhas em paralelo se cruzavam e se perdiam entre si. As marcas e as
assimetrias nos rostos alheios simplesmente desapareciam com o desfoco da
pupila. Os óculos estavam guardados na bolsa, por quê? Por que eu queria ver o
mundo sob uma nova perspectiva, menos material. Uma verdade em que construo por
outras percepções melhores do que a visão. O mundo agora em parte era o que eu
conseguia enxergar, e por outra, o que eu podia imaginar ser. As pessoas nunca
me foram tão misteriosamente encantadoras. Eram corpos que se balançavam em
perfeita harmonia com as cores e sons, como num quadro abstrato. E essa era a
pintura que só eu podia enxergar.
segunda-feira, 29 de junho de 2015
Você me tem
Nunca me senti tão acolhida em braços serenos e nem tão livre quanto um pássaro. Nunca me senti tão de alguém e tão sem dono. É que você me tem, não em suas mãos, mas em teu corpo. Cada poro de minha pele, cada fio do meu cabelo, de extremidade à extremidade. Me tem alinhado em tua vértebra como sendo dois corpos em harmonia. Tem meu pulsar, meu latejar e meu suor. Tem minha permissão, meu sim e o meu não. Me tem da forma mais ampla e restrita que existe. Me tem como nunca haverá de ter. Me tem em total imensidão do tempo ou em ínfimos segundos, mas agora, mais do que nunca, me tem por inteira, despida de qualquer pudor.
quinta-feira, 22 de janeiro de 2015
Prisma
Eu ando e vejo seu nome escrito nas paredes. Eu leio livros e o encontro nos personagens. Eu reviro meu lençol e você se enconde debaixo do meu travesseiro. Surge e ressurge feito cada raio de sol que penetra pelas brechas de minha janela. Moço, eu já não sei quantas sou e nem quantos mundos inexploráveis há em mim, mas se você me olha de perto, me tem sobre seus braços, sinto que é possivel me descobrir.
sexta-feira, 2 de janeiro de 2015
O que eu gosto em você
Gosto quando simplesmente paira seus
olhos sobre mim e sorri tão bobo, enquanto tento não me sujar com o sanduíche
em mãos. Quando parte do seu rosto está sob penumbra, olha fixamente para mim,
enquanto pergunto “o que foi?”, e com um sorriso largo me responde “nada,
apenas gosto de olhar para você”. É que seus olhos escuros parecem enxergar
além de mim, como se capturassem cada fração do que eu guardo internamente, escondido
e camuflado sob o meu batom vermelho.
Gosto de passar as mãos sobre sua
barba, fazê-lo lembrar da sua infância. Gosto de senti-la passando suavemente
sobre meu rosto, como dois felinos que se farejam numa noite fria e silenciosa.
Gosto do seu beijo, que me chega como alento. É seu sabor, textura e
temperatura. Me envolve e transborda, como água em ebulição. Saliva, língua e
mordidas. É o encaixe perfeito. E se essa conversa de química existe mesmo; a
nossa é, sem dúvidas, a orgânica.
Gosto quando consegue me ler, em
todos os sentidos. De ter sua mão sobre a minha, enquanto faz carinho nela. Também
acho incrível a forma em que surge quando mais preciso, quando o quarto em
silêncio fica vazio demais e me sufoca. É quando seu abraço me acolhe e sua voz
em tom sereno me tranquiliza, restituindo toda a minha calma.
Gosto de ouvir baixinho em meu
ouvido o quanto valeu a pena ter me conhecido, enquanto penso comigo mesma o
quanto estou feliz por ele ter surgido repentinamente em minha vida. Logo após,
olho para o relógio, esperançosa para dar meia-noite e ser a primeira a deseja-lhe
um feliz aniversário, sabendo eu que dessa vez quem ganhou o melhor presente
foi eu.
Ayllane Fulco.
domingo, 9 de novembro de 2014
Um contrato.
Minhas várias
paixões momentâneas. Meus motivos necessários de inspiração. Feito combustível
para a minha criatividade. Desculpa se os enganei, muitas vezes também fui
enganada. Ou melhor, não houve má fé, foi um contrato. Talvez você não tenha
ficado ciente que era autor, mas consentiu com todos os efeitos previstos. Então
não houve quebra contratual, nem obrigação de ressarcimento. Ambos ganharam,
meu caro. Só que na hora da perda talvez você tenha sofrido mais danos do que
eu. Normal, acontece, estava previsto. Deixei sublinhado e em negrito a tal
cláusula. Ninguém nunca o ensinou a ler um contrato antes de
assinar?
quarta-feira, 10 de setembro de 2014
Momento "up"
O cenário estava conforme o
esperado. Tanto tempo esperando esse contexto. Nós dois sentados num banco,
sozinhos. Sem timidez, sem mágoas. Momento perfeito para o despejo. Despejo do
que estava acumulado na garganta, o que remexia no estômago como uma boa e
velha ressaca de sábado à noite. Com todas as palavras já pensadas e
repensadas, estava preste a indaga-lo sobre o que ele queria, afinal, comigo. Era
tudo ou nada. E nada mesmo.
E ali estávamos a sós em diálogos
cordiais, até que em um momento o silêncio pairou... Era o momento da
indagação. Ele nem desconfiava de minha ambição, e nem percebeu o contexto metricamente
planejado. E aí olhei bem para ele, que se encontrava distraído em pensamentos
alheios, repassei em segundos as falas, e de repente... Eis o momento “up”! Foi
quando eu realmente “caí na real”, feito um piscar de olhos, percebi o quão dúbio
era o que estava preste a cometer. Eu pronta para indaga-lo de seus sentimentos
e ambições, a adentrar num território desconhecido e complexo demais. Mas como
eu seria pretensiosa por querer coloca-lo na parede e intimidá-lo a me dar uma
resposta curta e grossa, sem rodeios.
Naquele momento, por segundos, a questão
havia sido invertida, ou seja, não era mais uma questão de saber se ele gosta
ou não de mim, agora era uma questão de, será que eu gosto mesmo dele? Ou
melhor, será que vale a pena? E olhando para ele a resposta da segunda pergunta
foi “não”. Por breves segundos tudo veio
à tona, eu tinha chegado ao meu limite emocional. O meu desconforto não era mais
a suspeita de ouvir um “não” dele, mas me fez temer pelo “sim” (afirmação de que
gosta e pretende algo sério), pois eu não quero alguém tão confuso, ambíguo e
sem atitude. O que ele tem a me oferecer do seu dia, do seu tempo e de seu sentimento
é pouco demais.
É que essa história já deu o que
tinha que dar, e não quero mais insistir. Nem esperar pelo o que não existe. Há
tanta vida lá fora, não posso me prender a uma terra infértil. E naquele
momento “up” tirei uma boa lição, bem diferente do planejado. E me senti mais
segura, mais convicta, pronta para seguir adiante.
quarta-feira, 27 de agosto de 2014
Branco Gelo
Essa história tão em branco cheio de suposições.
Esse branco, tão branco que virou gelo. Petrifica qualquer indício de
aproximação. Nos mantém em alerta, cada um retendo seu passo, com medo de ser o
apressado dessa história. Mas quem comanda o lápis? Qual a mão que o induz em
folha? Parece que ambos brigam pela borracha. E feito dois medrosos nos
afastamos do amor. O mantemos naquela velha caixa de recordações e de desejos,
revelados por vezes quando nos entreolhamos. Mas ninguém quer dar um passo adiante,
ambos carregando seus traumas e orgulho ferido. Eu já não confio. Ele não sabe
quem realmente sou. Mas por que é tão
difícil abrir mão disso tudo? Fazer como todos me aconselham: parte pra outro,
você pode ter melhores. Parece que ninguém o enxerga como eu. Ou melhor, parece
que só eu vejo seu outro lado, seu outro ser, o mais sereno. Mas só quando
estamos nós dois. Sem más recordações, sem rostos conhecidos, sem qualquer
distância entre eu e ele. Quando já não há o medo de ser feliz.
sexta-feira, 22 de agosto de 2014
O amor é espontâneo
A verdade é a seguinte: o amor é
espontâneo. Você não precisa se esforçar para manter um diálogo. Nem procurar
milhares de justificativas para as desculpas esfarrapadas do outro. Nem passar
horas do dia planejando o que fará para chamar sua atenção.
Não estou dizendo que o amor vai
bater na sua porta, com o café da manhã em bandeja e um bilhetinho de “eu te
amo”. É claro que não. Mas o simples fato de você se esforçar unilateralmente
ao ponto de mendigar afeto do outro, mostra que este não está tão afim de você.
Por que quando se gosta, a vontade de ficar juntos é maior. É como um cálculo,
baseando-me nas ideias do sociólogo Cláudio Souto: S + I = V
S = Sentimentos; I = Ideias; e V
= Vontade.
Ou seja, resumidamente, quanto
mais ideias em comum, mais sentimentos são gerados, maior é a vontade de ficar
próximo dessa pessoa. Eis a fórmula do amor, mais simples do que imaginavam.
Revelada a fórmula, saiba que,
quando ele gosta de você, ele aparece, dá atenção, de forma espontânea. Não
procure desculpas do tipo, “ele é ocupado demais”, quando gosta, procura um
intervalo de tempo para se fazer presente, nem que seja um SMS. “Ah, mas ele
pode ser inseguro”, querida, quando gosta, mesmo que seja de forma sutil, o
homem demonstra. O problema está quando o esforço é unilateral, é sempre você
quem procura. Ou quando ele te procura há cada seis meses.
Encare as coisas como são. Não
estou dizendo para você ser machista e esperar todas as atitudes do homem,
longe disso. O que eu digo também vale para os homens, pois se a mulher gostar dele,
ela dará espaço para que este se aproxime, e vice-versa. A única diferença é
que as mulheres quando não querem nada, tendem a deixar isso mais explícito,
enquanto que os homens transformam suas “ficantes sem expectativas de evoluir”
como “amigas”, ele nunca descarta. Ele se afasta, mantém contato
periodicamente, e a deixa na reserva.
E é por isso que as mulheres
precisam ter cuidado, para não fazer parte do exercito de reserva, esperando para
que um dia aquele cara se dê conta que ela é a mulher da sua vida, como ocorre
nos filmes. Não! Isso não vai acontecer! Nenhuma pedra vai ser atirada na
cabeça dele e gerar um pane cerebral e você passar a ser, subitamente, a mulher
dos seus sonhos.
Como eu disse de início, o amor é
espontâneo. E mais do que isso, deve ser recíproco, mesmo que nunca ocorra na
mesma intensidade.
Ayllane Fulco
quinta-feira, 31 de julho de 2014
Adeus Otário
Hoje eu só queria sumir, entrar em estado nirvana, encher de ar os pulmões que me faltaram. Ou, de praxe,
chutar o pau da barraca e gritar até sangrar a garganta. Também queria te fazer
engolir sua hipocrisia, te pendurar numa cruz de cabeça para baixo, e
cantarolar de forma mais sarcástica “a-de-us-o-tá-rio”. Também queria jogar em
sua cara todas as verdades não ditas. Cuspir os beijos de fel. Arrancar sua
epiglote e fazer churrasquinho do seu coração, afinal, nunca funcionou muito
bem, assim como seu cérebro também não. E de proveito fritar seus olhos, acho
que sofrem de miopia, e nem farão falta, meu caro, já que só enxerga seu
próprio ego. Mas não se assuste, deixarei intacto seu carro. Boa noite.
segunda-feira, 14 de julho de 2014
Sorriso torto
Ele faz o azul ficar celeste,
faz do seu sorriso torto um motivo para o meu. Tem todas as explicações para o
mundo, da física ao copo de leite. E suas teorias? Alastra minha comodidade,
minha zona de conforto. Emana luz do que pensava ser treva. E faz da treva luz. Engenha diversas possibilidades,
num passe de cálculo e mágica. Ele me investiga na forma mais sutil, explora o
que há de forma mais amável. Busca-me em todos os lugares, palavras, cores e
sons. Tem as mais belas palavras na ponta da língua, em quatro idiomas. O meu
preferido é o finlandês. Tem todos os sons e sintonias, em semitons azuis. Faz
de mim um laço num abraço. Restitui a minha alma com toda a calma que me faltava.
E faz do dia, o mais vívido, e da noite a mais poética.
Ayllane Fulco.
segunda-feira, 19 de maio de 2014
Convite para se retirar
Tão jovem, mas já tão cansada. Tempo, tempo, tempo...
perdição de tempo. Amor em perdição. Tal como Camilo Castelo Branco, com menos romance. Sem nenhum romance. Apenas pela
perdição. Pela força da sonoridade. Motivo banal.
De
alguma forma, as pessoas estão sempre camufladas em suas inseguranças. Tempo que
se vai, que não volta. Tempo que permite as pessoas partirem de sua vida. Tão
abertamente, quase como um convite para se retirar, a porta já à vista, aberta,
ou melhor, escancarada. E você está ali em pé, segurando a porta para que não
feche, não permitindo ficar frente-a-frente com a outra pessoa, por medo ou
qualquer outro motivo. E deixa partir, ir embora. Apenas consentindo, talvez
motivando o ato pelo total silêncio e isolamento. E assim as pessoas vão
embora, quase que sem escolha própria. Convidadas a se retirar de mansinho.
Mesmo que sem a real vontade de ambas às partes.
quarta-feira, 16 de abril de 2014
Lixos-humanos
De repente eu estava ali, frente a frente com um "lixo humano". Sim, lixo, cujos sinônimos: resto, sobra, sem utilidade. A única diferença é que este possui um coração no peito e um cérebro pensante. Fora isso, é tratado igualmente a qualquer outro objeto descartável, feito farinha do mesmo saco. Jogado e abandonado. Por mim, por você e pelo Estado. Vítima ou culpado? Essa é uma questão irrelevante. O fato é: é um ser humano.
Esquecemos isso todas as vezes que nos colocamos no lugar das pessoas que sofreram algum dano cometido por eles. Nesse momento, o que sentimos? Repúdio, nojo e sentimento de vingança. E mais uma vez caímos na tendência de vê-lo pelo crime que cometeram e não pela sua existência física. Aquele se transforma em "aquilo". Uma coisa, um criminoso. Perde-se a identificação de ser humano, ao ponto de muitos pensarem "como assim, desejam ter seus direitos humanos respeitados?", como se isso não lhe coubessem. Mas afinal, são humanos também, não?! Lembrando-se, mais uma vez, a questão não é de vitima ou culpado. São direitos básicos de existência, e que não é porque a sociedade é miserável, economicamente falando, que os presídios devem refletir uma situação pior, ou seja, ter uma aparência mais suja e precária do que a vida fora de cela. Até por que, como exemplo, os presídios europeus, diferentemente do que muitos pensam, por serem países desenvolvidos, de “primeiro mundo”, acreditam que a realidade carcerária é outra, mas a verdade é que sofrem dos mesmos descasos estatais, como a superlotação, falta de higienização, entre outros tantos problemas.
Tal exemplo e situação revelam que o abandono aos presidiários, ou melhor, aos lixos humanos e sua instituição, é geral. É aqui e é na China. Como também é na Europa. São seres excluídos da sociedade. Nascidos com oportunidades de vida mínimas, jogados em jaulas e negado uma segunda chance. É uma negação implícita, claro. Valendo observar que, jogar um lixo na rua, em qualquer lugar, dificilmente será reciclado, é mais fácil gerar outros novos entulhos, aglomerados. Por que lugar de reciclagem não é na rua, e sim em um lugar específico para tal, que neste caso, deveria ser nos presídios, através de uma educação integrada, mas infelizmente as penitenciárias viraram uma instituição com fins de vingança, de pagar o mal com o mal, um descaso Estatal e judiciário. Só que o efeito é danoso, os punidos enxergam o Poder Judiciário como uma justiça puramente seletiva e elitista, e desconta na sociedade o que passaram dentro das celas.
Nesse momento, ao ler as últimas linhas, muitos devem estar pensando em como seria bom mantê-los então isolados até o fim de suas vidas, ou mais radicalmente, como seria mais fácil uma pena de morte. Menos um bandido. Menos um lixo. Mas não vamos tirar o foco novamente do fato, tentaremos ver o outro lado da moeda, nos colocar dessa vez na pele de quem está sendo punido. Vejamos que, se a própria sociedade olha esses seres com desprezo e desconfiança, feito monstros preste a atacar qualquer um, como é que os mesmos serão motivados a se socializarem se a própria sociedade os exclui? É muito fácil querer que uma planta se desenvolva, o difícil é ela crescer sem as condições básicas de existência, como sol e água. Então, como exigir que sejam cidadãos se nós sociedade os tratamos como lixos e não lhes é dado nenhum suporte de desenvolvimento?
É preciso uma motivação externa, tanto pela sociedade quanto pelo Estado, para que esses indivíduos se recuperem, pois unicamente enjaulá-los não abstrai o problema, apenas o deixa mais complexo. Portanto, cabe uma reforma carcerária, mas antes disso, uma reforma na mente social, e simultaneamente, uma visão mais ampla e menos elitista frente aos seus "lixos-humanos".
- Ayllane Fulco.
Esquecemos isso todas as vezes que nos colocamos no lugar das pessoas que sofreram algum dano cometido por eles. Nesse momento, o que sentimos? Repúdio, nojo e sentimento de vingança. E mais uma vez caímos na tendência de vê-lo pelo crime que cometeram e não pela sua existência física. Aquele se transforma em "aquilo". Uma coisa, um criminoso. Perde-se a identificação de ser humano, ao ponto de muitos pensarem "como assim, desejam ter seus direitos humanos respeitados?", como se isso não lhe coubessem. Mas afinal, são humanos também, não?! Lembrando-se, mais uma vez, a questão não é de vitima ou culpado. São direitos básicos de existência, e que não é porque a sociedade é miserável, economicamente falando, que os presídios devem refletir uma situação pior, ou seja, ter uma aparência mais suja e precária do que a vida fora de cela. Até por que, como exemplo, os presídios europeus, diferentemente do que muitos pensam, por serem países desenvolvidos, de “primeiro mundo”, acreditam que a realidade carcerária é outra, mas a verdade é que sofrem dos mesmos descasos estatais, como a superlotação, falta de higienização, entre outros tantos problemas.
Tal exemplo e situação revelam que o abandono aos presidiários, ou melhor, aos lixos humanos e sua instituição, é geral. É aqui e é na China. Como também é na Europa. São seres excluídos da sociedade. Nascidos com oportunidades de vida mínimas, jogados em jaulas e negado uma segunda chance. É uma negação implícita, claro. Valendo observar que, jogar um lixo na rua, em qualquer lugar, dificilmente será reciclado, é mais fácil gerar outros novos entulhos, aglomerados. Por que lugar de reciclagem não é na rua, e sim em um lugar específico para tal, que neste caso, deveria ser nos presídios, através de uma educação integrada, mas infelizmente as penitenciárias viraram uma instituição com fins de vingança, de pagar o mal com o mal, um descaso Estatal e judiciário. Só que o efeito é danoso, os punidos enxergam o Poder Judiciário como uma justiça puramente seletiva e elitista, e desconta na sociedade o que passaram dentro das celas.
Nesse momento, ao ler as últimas linhas, muitos devem estar pensando em como seria bom mantê-los então isolados até o fim de suas vidas, ou mais radicalmente, como seria mais fácil uma pena de morte. Menos um bandido. Menos um lixo. Mas não vamos tirar o foco novamente do fato, tentaremos ver o outro lado da moeda, nos colocar dessa vez na pele de quem está sendo punido. Vejamos que, se a própria sociedade olha esses seres com desprezo e desconfiança, feito monstros preste a atacar qualquer um, como é que os mesmos serão motivados a se socializarem se a própria sociedade os exclui? É muito fácil querer que uma planta se desenvolva, o difícil é ela crescer sem as condições básicas de existência, como sol e água. Então, como exigir que sejam cidadãos se nós sociedade os tratamos como lixos e não lhes é dado nenhum suporte de desenvolvimento?
É preciso uma motivação externa, tanto pela sociedade quanto pelo Estado, para que esses indivíduos se recuperem, pois unicamente enjaulá-los não abstrai o problema, apenas o deixa mais complexo. Portanto, cabe uma reforma carcerária, mas antes disso, uma reforma na mente social, e simultaneamente, uma visão mais ampla e menos elitista frente aos seus "lixos-humanos".
- Ayllane Fulco.
segunda-feira, 14 de abril de 2014
Tem gente...
É, tem gente
que aparece de mansinho, se aloja em sua vida tão espontaneamente. Sem pressa
ou invasão. Sem intervalos ou desculpas. De repente está ali, ao seu lado,
prestes pra te acolher a qualquer momento. É, tem gente que te entende antes
mesmo de você se explicar. Que em um olhar consegue captar o seu pensamento.
Tem a sensibilidade de notar todos os sinais de oscilações de humor. Tem gente
que nem precisa de presença para se fazer essencial. E nem de distância para se
fazer falta. Tem gente que vem e fica. E quando fica, é para sempre.
Olhando por dentro
Tem gente que
está com você, mas seus olhos não dizem nada, são distantes e superficiais.
Talvez sejam até atraentes pelo mistério que os envolve, mas não passa disso.
Já outras pessoas, muitas vezes mesmo sem conhecê-las, parece que te olham por
dentro. Nos olhares que se cruzam, em que ambos têm a convicção de que o outro
está sentindo a mesma coisa, uma espécie de empatia um pelo outro. E só por
alguns segundos esporádicos, uma invasão interna. Sem palavras, sem gestos.
Apenas os olhos que conversam numa linguagem puramente particular.
quinta-feira, 10 de abril de 2014
Superficialidade
Na verdade, eu sempre desejei que um alguém me notasse de fato. Não a minha roupa, minhas fotos, meu rosto, se sou bonita ou feia. Não, mas o meu íntimo. Mergulhar no que não está aparente, no que é profundo, intrínseco. Ter a sensibilidade de perceber o que se passa dentro de mim, naquele momento, sem que eu precise expor com todas as palavras. E que me passe segurança, pisar em terra firme, e não em areia movediça. É que eu sempre preferi ter meus pés sobre o chão. Sem tantos mistérios, sem tantas aparências. Manter a cara limpa, lavada e crua. Exposta e despida. Sem jogos de esconde-esconde. Sem segredos e sem surpresas desagradáveis. Não é que seja livre de defeitos, mas que não sinta a necessidade de esconde-los de mim. Eu não esconderei os meus, pode ter certeza. Esse alguém também precisa ser capaz de me ler em todos os sentidos, literal e figurado. Que simplesmente seja real, e não superficial. Pois no começo pode até ser atrativo, sem defeitos aparentes, nada que soe perturbador. Mas depois de um tempo, é entediante. Já não se sabe, com clareza, se é você que é intensa demais ou se o outro que é uma tábula rasa. E pior ainda, ter que tornar-se superficial também para poder dar certo. Pois quem é assim, não está acostumado a ter pessoas ao seu lado, apenas corpos vazios. Sem cérebro, sem coração, sem olhos... Sem qualquer coisa que remeta à vida.
- Ayllane Fulco
segunda-feira, 7 de abril de 2014
Comunica-ação
A comunicação é uma terapia diária. Sociólogos
já afirmam que a falta dela leva à angustia e depressão, quando não a problemas
mais graves. A falta de denominar os sentimentos, de não saber se expressar,
fica nos sufocando, parece até faltar ar nos pulmões. Sentir algo e não saber descrever, é como ter vontade de comer algo e não saber o quê, nem é doce e
nem salgado. Não é frio e nem quente. É uma necessidade sem nome aparente. Está
ali nos cutucando e não sabemos sua localização, ora atinge a laringe, ora o
estômago, por vezes o coração. Já estamos engolindo as lagrimas que não
choramos. Desfazendo as palavras que não falamos. Corroendo ideias sem nexo e
coerência. Estamos naufragando em pleno chão. Comunica-ação, frustração, falta
de ação. Engolindo a seco o que não chegou nem a língua.
Matinal
Acordei
com a cara limpa, cabelos bagunçados, com a cor de pele mais branca que folha
de papel. No entanto estava ali, mais pura, mais entregue ao natural. Parece
que a alma se expande com os primeiros raios de sol. Tudo é sereno e vívido.
Tudo é real com toque de idealização. É um momento em que a paz invade um
pequeno quarto, vindo pelas brechas da cortina... Quanto vale esse momento
matinal? Aparentemente sem valor nenhum, passa por despercebido, ou melhor, nossas dificuldades diárias sendo
processadas em nossa mente, antes mesmo de abrir os olhos, já nos impede de ver
a tamanha beleza da simplicidade natural. Apenas queremos fechar os olhos e
abrir com a maior lentidão possível para que os mesmos não sofram com o clarão
do dia. Pobres seres humanos, não sabemos contemplar a luz.
sábado, 5 de abril de 2014
Loucura
Hoje a loucura surrou a porta da minha sanidade. Entrou feito
um vendaval, tirando tudo do lugar. Cada palavra, medida, forma... tudo que
estava em perfeita métrica. Agora, fora de eixo. De contexto. De pernas pro ar.
Toda roupa suja sendo lavada em público,
exposta no varal, secando ao ar livre. A paciência escorreu pelo ralo da pia. O
tapete foi removido do lugar, sujeira pra tudo que é lado. A boca feito arma, tiro saindo pela
culatra. Palavras pesadas de chumbo. Atingindo ambos. Peito sangrando em carne
viva. Pupilas dilatadas. Mãos frias. Um coração em arritmia. O diagnóstico foi dado: loucura generalizada.
-Ayllane Fulco
sexta-feira, 4 de abril de 2014
Declaração
A verdade é
que já tentei de todas as formas deixar tudo para lá, no canto, quieto. Tentei não
enxerga-lo quando passava pelo corredor. Tentei não procura-lo com os meus
olhos. Tentei pagar com a mesma moeda, com o silêncio. Eu quase consegui. Quase
fui até o final. Tudo para me sair por cima. Mas chegando quase ao fim, percebi
que não valeria a pena essa ambição egocêntrica protetora. É que, por mais
idiota que eu esteja sendo, não consegui esquecê-lo, nem ignorar por muito
tempo. Como você mesmo me descreveu, eu sou verdadeira com os meus sentimentos,
e por todo esse tempo, contraditoriamente, eu fui covarde com eles. Quando meu
ego ficou ferido eu simplesmente quis desistir. Um passo para trás, uma
história sem começo e nem fim. Folha quase em branco, apenas rascunhos. Apenas
maus entendidos e duas pessoas sem graça.
E agora o meu
maior risco é que não sei o que você sente, se já está em outra ou se nunca
esteve aqui. É de me declarar pela primeira vez de forma tão direta a um
destinatário. Sem meios intermediários ou indiretas... Mas questão é clara, dessa vez eu estou
falando primeiramente por mim, por que eu preciso expor, independente do que
vou ouvir como resposta (ou pior ainda, correndo o risco do seu silêncio
ensurdecedor), que eu sinto sua falta, do seu “bom dia” e “boa noite”, do seu
jeito extremista entre homem e menino, do seu sotaque engraçado, da sua tentativa
de me ensinar a dançar, das nossas mãos unidas, dos seus olhos castanho-claro,
de vê-lo com o rosto corado de timidez, de senti-lo próximo a mim.
Ok, talvez eu
esteja idealizando muitas coisas miúdas, talvez até inexistentes, vivas apenas
em minha cabeça oca. Só que eu preciso seguir meus próprios conselhos de
liberdade interna. E por fim, e não menos importante, preciso pedir desculpas
pelo meu auê, eu sinceramente não queria magoar você.
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