domingo, 5 de julho de 2015

Óculos


O mundo estava um borrão colorido. Um lindo borrão de luzes. As linhas em paralelo se cruzavam e se perdiam entre si. As marcas e as assimetrias nos rostos alheios simplesmente desapareciam com o desfoco da pupila. Os óculos estavam guardados na bolsa, por quê? Por que eu queria ver o mundo sob uma nova perspectiva, menos material. Uma verdade em que construo por outras percepções melhores do que a visão. O mundo agora em parte era o que eu conseguia enxergar, e por outra, o que eu podia imaginar ser. As pessoas nunca me foram tão misteriosamente encantadoras. Eram corpos que se balançavam em perfeita harmonia com as cores e sons, como num quadro abstrato. E essa era a pintura que só eu podia enxergar.

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