O cenário estava conforme o
esperado. Tanto tempo esperando esse contexto. Nós dois sentados num banco,
sozinhos. Sem timidez, sem mágoas. Momento perfeito para o despejo. Despejo do
que estava acumulado na garganta, o que remexia no estômago como uma boa e
velha ressaca de sábado à noite. Com todas as palavras já pensadas e
repensadas, estava preste a indaga-lo sobre o que ele queria, afinal, comigo. Era
tudo ou nada. E nada mesmo.
E ali estávamos a sós em diálogos
cordiais, até que em um momento o silêncio pairou... Era o momento da
indagação. Ele nem desconfiava de minha ambição, e nem percebeu o contexto metricamente
planejado. E aí olhei bem para ele, que se encontrava distraído em pensamentos
alheios, repassei em segundos as falas, e de repente... Eis o momento “up”! Foi
quando eu realmente “caí na real”, feito um piscar de olhos, percebi o quão dúbio
era o que estava preste a cometer. Eu pronta para indaga-lo de seus sentimentos
e ambições, a adentrar num território desconhecido e complexo demais. Mas como
eu seria pretensiosa por querer coloca-lo na parede e intimidá-lo a me dar uma
resposta curta e grossa, sem rodeios.
Naquele momento, por segundos, a questão
havia sido invertida, ou seja, não era mais uma questão de saber se ele gosta
ou não de mim, agora era uma questão de, será que eu gosto mesmo dele? Ou
melhor, será que vale a pena? E olhando para ele a resposta da segunda pergunta
foi “não”. Por breves segundos tudo veio
à tona, eu tinha chegado ao meu limite emocional. O meu desconforto não era mais
a suspeita de ouvir um “não” dele, mas me fez temer pelo “sim” (afirmação de que
gosta e pretende algo sério), pois eu não quero alguém tão confuso, ambíguo e
sem atitude. O que ele tem a me oferecer do seu dia, do seu tempo e de seu sentimento
é pouco demais.
É que essa história já deu o que
tinha que dar, e não quero mais insistir. Nem esperar pelo o que não existe. Há
tanta vida lá fora, não posso me prender a uma terra infértil. E naquele
momento “up” tirei uma boa lição, bem diferente do planejado. E me senti mais
segura, mais convicta, pronta para seguir adiante.
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