Na verdade, eu sempre desejei que um alguém me notasse de fato. Não a minha roupa, minhas fotos, meu rosto, se sou bonita ou feia. Não, mas o meu íntimo. Mergulhar no que não está aparente, no que é profundo, intrínseco. Ter a sensibilidade de perceber o que se passa dentro de mim, naquele momento, sem que eu precise expor com todas as palavras. E que me passe segurança, pisar em terra firme, e não em areia movediça. É que eu sempre preferi ter meus pés sobre o chão. Sem tantos mistérios, sem tantas aparências. Manter a cara limpa, lavada e crua. Exposta e despida. Sem jogos de esconde-esconde. Sem segredos e sem surpresas desagradáveis. Não é que seja livre de defeitos, mas que não sinta a necessidade de esconde-los de mim. Eu não esconderei os meus, pode ter certeza. Esse alguém também precisa ser capaz de me ler em todos os sentidos, literal e figurado. Que simplesmente seja real, e não superficial. Pois no começo pode até ser atrativo, sem defeitos aparentes, nada que soe perturbador. Mas depois de um tempo, é entediante. Já não se sabe, com clareza, se é você que é intensa demais ou se o outro que é uma tábula rasa. E pior ainda, ter que tornar-se superficial também para poder dar certo. Pois quem é assim, não está acostumado a ter pessoas ao seu lado, apenas corpos vazios. Sem cérebro, sem coração, sem olhos... Sem qualquer coisa que remeta à vida.
- Ayllane Fulco
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