quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

O amor, a vodka

 
 

      O amor me aparecia com gosto de azedume, com cara de ressaca. Descia rasgando pela garganta, como quem engole vodka pura. Delirante e viciante, de quem bebe para fugir da realidade. Mas depois que os efeitos passam com o tic-tac do relógio, o corpo já se esfria, o alcóol se esvaz e me deixa ver com mais lucidez. É quando a bendita da ressaca surge feito um soco no estômago, me fazendo lembrar de que não adianta beber ou fugir da realidade em que me encontro. - Essa era a minha visão do amor, uma caneca cheia de vodka. Ou melhor, várias.
         Questionei-me por vezes onde é que o meu tal romantismo fora parar, atirou-se de mim enquanto eu fechava os olhos. Veloz feito um ladrão. Pôs-se o corpo fora, deixando apenas a velha lembrança de que um dia existiu em mim. Mas afinal, quando foi que partiu? Quando foi que fiquei despida, sem véu e grinalda?
         Entrei numa rua escura, onde de esquina encontrava-se um bar, coloquei-me frente-a-frente com um velho conhecido meu, olho para ele, cara-a-cara, olhos-nos-olhos, desafiando sua cara de inocente. Pensa que me engana. Sua cor transparente, sua textura de água, mas seu conteúdo era mais traçoeiro. Muitos poderiam olhar para ele e dizer: é apenas um cara neutro feito água, ou, é um cara tão essencial feito água. Mas ambos estavam enganados. E se querem saber seu nome, eu o digo, mas só dessa vez, para fazer-lhes relembrar, seu nome é vodka, conhecido por mim como amor. Ou será que é amor, conhecido por mim como vodka?
         Bem, talvez eu esteja já bêbada neste momento ou esse seja o meu eu "sóbrio". Mas agora isso já nem importa mais. O que importa é que já decidi que dessa vez não terá volta, ou viro alcóolatra de vez ou largo a droga da bebida. Ficar nessa de sóbrio durante a semana e bêbada nos fins de semana está me deixando ambígua demais. Nem eu me aguento nesses momentos de ser ou não ser. - Que eu morra de amor, ou que eu o mate de vez.
- Ayllane Fulco

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