domingo, 25 de agosto de 2013

Estranha


Ela era tão infantil, mas achava-se madura o suficiente para viver sem se magoar. Ela não sorria alto, porque achava escandaloso demais. Ela não falava palavrões, porque não condizia com a forma correta de uma mulher se portar. Ela não ficava dando bola pros garotos, porque os achava tão imaturos. E quando ela gostava de alguém, não sabia como se comportar. Se ficasse calada, era falta de interesse. Se falasse, era oferecida. Então simplesmente ficava na sua, esperando que o outro tomasse uma atitude. Já esse outro, a considerava metida demais, que não queria se misturar por que se considerava superior. O que ele não sabia é que se misturar era o que ela mais queria. E só não conseguia por que não se achava igual aos outros e a ele, e isso não porque se considerava superior, e sim insegura. Insegura com o que vestia, com o que falava, com seus gostos antigos.
Ela continuou insegura e sozinha. Ele acreditando que ela era estranha. Ela passou a se considerar estranha. E com o tempo foi se tornando cada vez mais estranha. Cada vez mais muda. E ele continuou com sua vida, com sua liberdade. E ela ainda era estranha. Mudou o cabelo, tirou os óculos e aparelho, mudou a postura... Fez de tudo, mas continuou estranha. Sua estranhez não era como se pode imaginar, não era de fora pra dentro. Era de dentro pra fora. O seu ser era estranho e não importava o que ela fizesse para alterar, nem maquiagem resolvia. Todos concordavam com uma coisa: Ela era estranha.
Até que ela cansou de mudar. Deixou as maquiagens de lado. Largou mão de tentar ser igual aos outros. E se assumiu a alto e bom som que era estranha. Hoje ela continua estranha, o que não é de se espantar. Mas hoje ela se ouve mais, se conhece mais. Sabe que ser estranho não é ser amargo, é agridoce. E agridoce era o seu gosto. Ela não era doce como as demais, nem azeda como as restantes. Ela era agridoce. E isso a fazia se sentir melhor. Mais completa em sua ambiguidade. E os outros continuaram achando-a estranha. Mas já não era uma ofensa, era uma particularidade.
- Ayllane fulco

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