segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Ambos no velório


      Morreu. De morte morrida ou de morte matada? Eu ainda não sei. Vai ver que foi morte morrida mesmo, mas ambos teimam a acreditar, cada um culpando o outro de assassinato. Mas o fato foi dado: Morreu. E a sentença? É aceitar. Sim, aceitar e sem questionar. Esse foi o acordo daquele dia, ambas as partes concordaram, mas também se um não concordasse, não teria mudança alguma. Estaria morto de qualquer jeito. Por que era preciso ser em par. Eu sei, é triste ver a morte de alguém que era tão próximo, vendo-o dentro do túmulo que se fecha diante dos próprios olhos, e o que se pode fazer?! Nada... O corpo se inclina, as lágrimas caem, o gosto amargo fica pairando na boca, enquanto você se despede pela última vez. E lá se foi um ente próximo, que fez-se distante. E por lá, enterrado ficou, talvez fosse um filho ou apenas um animal de estimação. Mas ambos sabiam de sua morte, ambos estavam cientes disso. Ambos arcaram com o custo do velório e com todos os "pêsames", e insensivelmente também tiveram de ouvir "já estava na hora". Mas o fato é: estava sendo enterrado, o que já estava morto. Depois das despedidas, ambos deram as costas um para o outro, seguiram em caminhos opostos. E com o tempo, ambos esqueceram a perda.
- Ayllane Fulco

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