Tão cheia de espaço e de abraço. Em um lugar habitual,
familiar, com conhecidos. Mas o espaço continua em aberto, um vazio que fica no
estômago, talvez. Não, não é a fome. Está escancarado para quem quiser olhar,
feito difundo numa sala de anatomia. Sentindo-me ser analisado de perto, como
se estudassem o meu cadáver. Viram e me desviram, colocam-me até de cabeça para
baixo, mas de nenhuma forma o vazio se esconde. Colocam até uma bata branca
sobre ele, mas ele continua ali, só que dessa vez não escancarado como antes.
Mas continua, entende?
E todos fingem que não o notam mais, talvez para fazer
com que eu mesma esqueça-se dele. Às vezes dá certo, mas depois que toco em
minha barriga, ele continua ali, parece até que vai se expandir, sair pela
garganta feito um vômito. Sinto, por vezes, o gosto da saliva misturada com seu conteúdo amargo, reluto contra a ânsia.
Quando já não aguento mais, o vazio revira minhas tripas,
soca meu estômago, e impulsivamente o expulso de dentro de mim. Como estou
fazendo agora com essas palavras. Mas uma verdade é: todo vômito traz consigo o alívio.
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