quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Aprendizado do dia


Engraçado como passamos tanto tempo do nosso dia esperando receber afeto de quem não nos dá. Mendigando atenção de uns, distribuindo “bom dia” por aí sem recebê-lo de volta. O mais engraçado de tudo isso é quando chega uma mensagem inesperada vindo de alguém inesperado, que nos toma de surpresa. É quando estamos tão agoniados, mergulhados numa tamanha carência ou no estresse do dia-a-dia, e quando de repente, ao acessar a sua caixa de e-mail, surge um “eu te amo”, de um amigo que há tempos não se falam. Nesse exato momento parece que tudo passa a fazer sentido e você se dá conta de como é especial para algumas pessoas. E aí, aquela sensação de crise existencial se evapora. Mais uma vez você reaprende que quem gosta de você, valoriza. E que mendigar a atenção de alguém já é a prova de que não lhe merece. Percebendo que os que a amam, mesmo com o passar dos dias, meses ou até anos, permanecem ali, vibrando com as suas conquistas, admirando-a e até mesmo orando por você, enquanto que as pessoas momentâneas que passam por nossas vidas, como já foi dito, são momentâneas. Por isso, não vale a pena se lastimar por aquilo que vai passar, pelo o que é efêmero. E por fim, vale levar como aprendizado, que é preciso distribuir “eu te amo” aos que sempre estiveram com você, aos que fazem de sua presença algo essencial e de sua ausência uma falta. Aos que lhe acolhem com um sorriso no rosto. Aos que lhe procuram nos momentos de angústia. Aos que você procura nesses mesmos momentos. E aos que você não precisa se esforçar para manter uma conversa, ela simplesmente flui naturalmente.
- Ayllane Fulco.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Anomalia


Não estou chorando por você. E nem uma abelha me picou. Não é a reação da gripe. E nem uma alergia. Um cisco não entrou em meus olhos. Também não cortei nenhuma cebola. Não usei colírio. E nem cocei os olhos... É que esses olhos insistem em chorar. Alguém consegue entender isso? Já fui ao oftalmologista, ele disse que não havia nada de errado e me encaminhou pra um psicólogo, pensando ele ser coisa da minha cabeça. Falei de tudo.  O psicólogo me revirou e desvirou, quase me expôs ao tratamento de choque, e meus olhos continuaram úmidos e inchados. E mais uma vez não encontrou nada de anormal. Levaram-me até para a igreja, para o pastor me analisar, pensando ser coisa espiritual. Orações demasiadas, e os olhos permaneciam escorrendo, talvez até mais do que das outras vezes. E ninguém nunca soube explicar essa anomalia. Eu continuo com os olhos molhados. Já enchi baldes e mais baldes. Já ensopei todos os meus travesseiros. Já enchi até o mar com as minhas lágrimas. Já quase me afoguei nelas. E agora, eu já não procuro mais a sua cura. Apenas sinto cada gota sair de dentro de mim, como se me rasgasse e me alagasse por inteiro. De corpo e alma. Molhando-me de fio a fio de cabelo. De extremidade a extremidade.
- Ayllane Fulco

Demonstração de amor


Quando se sabe que é amada? Quando se sabe que lhe querem o bem? Se não houver demonstração, nunca saberemos. Um gesto, mesmo que tímido, mesmo que de longe. Um sinal, uma pista, qualquer coisa! E não, não me venha com oscilações, é muito chato quando se demonstra interesse e depois coloca o corpo fora. Talvez para fazer charminho, sabe-se lá. A questão é: todos nós precisamos de demonstrações de afeto. Simples. Não importa a forma, o meio, o momento. Nós precisamos saber que somos amados. Não adianta alguém amar e ficar calado, como se o sentimento por si só bastasse. É preciso demonstrar, nem que seja de relance, sem jeito, sem música, sem valsa, sem bombons e sem serenatas. Ou com tudo isso. Que seja piegas... Ou discreto! Mas que seja! Que eu veja! E sinta... Por que eu preciso saber, ora!
- Ayllane Fulco

Mario Calfat Neto

Se eu posso te dar um conselho, eis aqui: Não mendigue atenção de quem quer que seja. Não se esforce para compartilhar minutos com quem está mais interessado em coisas que não te incluem. Não prolongue a conversa apenas para ter o outro por perto, quando você perceber que precisa se esforçar bastante para que o monólogo vire um diálogo. Esqueça. Prefira a sua solidão genuína à pseudo presença de qualquer pessoa. Ainda digo mais: Perceba que existem pessoas que curtem dividir a atenção contigo sem que você precise desprender esforço algum. Aproveite o que te dão de livre e espontânea vontade. Dispense o que te dão por força do hábito ou por conveniência. Esqueça o que não querem te dar. Cada um dá o que pode.
Mario Calfat Neto

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

O que odeio em você

Não, não preciso de você. Não preciso dos seus olhos castanho-claros. Nem do seu sorriso bobo. Nem muito menos da sua fala arrastada, e nem do seu sotaque engraçado. E sabe de uma coisa? Eu detesto o tempo que te espero. Detesto sua falta de atenção. Seus dias ocupados. Os minutos que se passam até ler sua resposta curta. E mais ainda, detesto sua indecisão. O medo que sente de mim, de chegar e falar o que se quer e espera. Dizem que isso é de Gêmeos, mas não me importa mais o seu signo e nem o que os astros dizem de você! Eu agora é que quero falar e expor por mais uma vez o que eu odeio em você. Odeio a forma que me deixa vulnerável, quando eu prometi a mim mesma que jamais seria assim, uma “mulherzinha apaixonada”. Odeio sentir que falta um pedaço meu por aí, e ter a convicção de que sou incompleta. Odeio todas as vezes em que supões que sou frágil demais, intensa demais, sentimental demais. Ah, e também odeio seus erros de português! Isso deixa meus nervos à flor da pele. E sem falar do seu sono incontrolável, tendo que se despedir de mim tão rapidamente. Das suas faltas de explicações, de ter que ouvir um “desculpa” mais chulo. Odeio quando depois que reclamo de tudo isso, sei exatamente o que passa em sua cabeça “as mulheres são sentimentais demais” ou pior “ela deve estar na TPM”. Por que é que você, como todos os homens, ignoram tudo o que dizemos, principalmente a parte do “a culpa é sua”, e feito chá de sumiço cerebral, nós é que passamos a ser as chatas, sensíveis, descontroladas por “razão nenhuma”?! Ora, ora... E por fim, sabe o que é pior de tudo isso?! Ter que admitir a mim mesma que me importo com você. Até mais do que eu queria.
- Ayllane Fulco

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Verdadeiro

      Semana passada ouvi uma frase muito interessante do Padre Fábio de Melo, a qual dizia uma verdade quando afirmava que é muito fácil amar alguém que nós admiramos, o difícil é amar quando essa mesma não corresponde à nossa expectativa, e que só se pode dizer que a ama, quando antes de dizer “eu te amo”, foi capaz de dizer “eu te perdôo”. Esse é o verdadeiro amor.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Vazio


           Tão cheia de espaço e de abraço. Em um lugar habitual, familiar, com conhecidos. Mas o espaço continua em aberto, um vazio que fica no estômago, talvez. Não, não é a fome. Está escancarado para quem quiser olhar, feito difundo numa sala de anatomia. Sentindo-me ser analisado de perto, como se estudassem o meu cadáver. Viram e me desviram, colocam-me até de cabeça para baixo, mas de nenhuma forma o vazio se esconde. Colocam até uma bata branca sobre ele, mas ele continua ali, só que dessa vez não escancarado como antes. Mas continua, entende?
            E todos fingem que não o notam mais, talvez para fazer com que eu mesma esqueça-se dele. Às vezes dá certo, mas depois que toco em minha barriga, ele continua ali, parece até que vai se expandir, sair pela garganta feito um vômito. Sinto, por vezes, o gosto da saliva misturada com seu conteúdo amargo, reluto contra a ânsia.
            Quando já não aguento mais, o vazio revira minhas tripas, soca meu estômago, e impulsivamente o expulso de dentro de mim. Como estou fazendo agora com essas palavras. Mas uma verdade é: todo vômito traz consigo o alívio.
 

domingo, 2 de fevereiro de 2014

O grande troféu

         Ela estava ali, frente a frente com ele. Ambos mal se conheciam. Poderia até dizer que eram apenas corpos vazios naquele momento. Ele estava ali disposto a ganhar mais um troféu para a sua coleção, mais uma escultura de fundo vazio. Ela só queria ser amada, será que era tão difícil assim de entender? Mas ele só poderia lhe oferecer o momentâneo. A grande questão é: será que ele não via uma pessoa em sua frente? Será que ele não sabia que ela tinha um coração que pulsava? Será que ele tinha noção dos planos arquitetados perfeitamente naquela criatura que parecia tão frágil? E de um terço dos seus talentos? De como ela era incrível?
       Talvez a ambição de conseguir o prêmio fosse tão estúpida ao ponto de esquecer que o troféu tinha vida própria. E nessa corrida, ele deixou de conhecer a grande mulher que estava em sua frente, aquela que poderia dar um sentido a toda a sua existência. Mas ele preferiu deixar todas essas suposições de lado, e com muito orgulho, ergueu o troféu de maior babaca de todos os tempos. Esse foi o final da história.
- Ayllane Fulco

sábado, 1 de fevereiro de 2014

A última romântica

- Meu amor, sabe que o problema não é consigo. Sabe que esse mundo é tão sujo, tão imundo para seus amores. Sabe muito bem que seus sonhos são lindos demais para a realidade insana. E por maior que seja de minha vontade protegê-la, sabe que não posso. E tudo o que eu mais queria nessa vida era mudar o mundo por você. Mas isso você também sabe que não posso fazer. E perante toda essa minha ineficácia, minha paralisia perante minhas vontades, tudo o que posso desejar-lhe é sorte, meu amor. Sorte para que encontre alguém capaz de amá-la de uma forma pura e sublime, para que assim descubra que para ser feliz nessa vida não é preciso mudar o mundo, e sim ter sorte no amor.