quarta-feira, 24 de julho de 2013

Carência



-Carência- Quem nunca a sentiu?! Ela vem de mansinho, se aloja no peito sem que percebamos, e quando já muito acomodada, ocupa todos os lugares vazios do coração. Apresenta-se com o sobrenome Saudade, e apelido Ausência. Convida-nos a sentar, nos oferece uma xícara de chá, e quando relutamos em não aceitar tal convite, ela insiste. Escancarando os dentes, nos lembrando de que não se deve fazer uma desfeita com um recente inquilino. Quando por fim, ela puxa uma cadeira de mansinho, sentamos e nos servimos de chá. Depois chegam os biscoitinhos para acompanhar. Quando achamos que já basta por aquele dia, ela vem e nos coloca contra a parede, pedindo que permaneça para o almoço, que a faça companhia nesse tão grande vazio lar, o coração. Você pensa em algum argumento convincente, para sair às pressas daquele lugar, pensa em contar que já tem algum compromisso, que sua agenda tá lotada, que tem muitos problemas pra resolver e que não tem tempo para o almoço... Até que você sente o cheiro da comida fresca vindo da cozinha. A barriga suplica que aceite o convite e você não consegue desistir, qualquer argumento parece vão quando a verdade é o oposto. Uma vez de frente com a Carência, dificilmente conseguirá se desvincular dela facilmente.  Então você senta novamente naquela mesa que foi servido o chá, e espera pelo almoço. Enquanto isso ela segura em sua mão, se aproxima sem nenhuma vergonha, passa a mão em seu rosto, você tenta se afastar um pouco, vira o rosto pro lado contrário, ela continua, força a barra mesmo. Até que sua única escapatória é dizer que precisa ir ao toalete. Ao voltar para sala, o almoço já está servido. Você senta-se na cadeira que já está colada a dela, olha seu prato já servido por ela, e quando menos espera, ela já está colocando a comida em sua boca, pequenas porções no garfo. Você constrangido, mas sem nenhuma coragem de recuar, acaba cedendo. Ela oferece vinho e você aceita. Ora?! Por que não?! E vai um drinque e depois mais tantos outros... Até sua visão ficar turva. Cuidado! Ela é ousada! (é o que sua mente dizia, mas o álcool já havia lhe contaminado, impedindo de ouvir qualquer ruído interno). Então ela se aproxima, com a malícia estampada na cara, rouba-lhe os beijos que você não queira dar, rouba-lhe as vestes que já estavam até desabotoadas do corpo, rouba-lhe a permissão que você não teve chance de negar. E por fim, ela já invadiu todo o seu corpo, o coração era pequeno demais para sua ambição.

Nenhum comentário:

Postar um comentário