terça-feira, 21 de agosto de 2018

Anônima melancolia


Sabe quando algo desconhecido te atinge por dentro? Como um resfriado que chega sem avisar, que transpassa no ar, invisível. Pois bem, nesse instante um sopro de sentimento anônimo me atingiu em cheio, enquanto apenas andava por aí. O sopro foi inspirado e se instalou em meu peito, se alojou no espaço empoeirado que só fez espalhar mais poeira. Dimanam por meus olhos e escorrem por minha face: o sopro misturado com poeira. Reconheço a causa da tragédia, mas desconheço o motivo. No entanto, presumo que a poeira se fez por longos anos em carne viva, até quase entupir as veias coronárias. E no peito a poeira se multiplica e se aglomera, calcifica. O sangue já não é tão vermelho, tem a cor estranha, “fubenta” pelo tom cinza do pó. Mas está dentro da veia e camuflado pela pele alva. E por fora é tudo normal, quase não parece um pré-infarto.

Cá estou

No fim das contas, nunca abandonei por completo a mania de escrever. Sumo por dias, semanas, meses, mas volto. Como cá estou, jogando palavras ao vento sem pretensão de serem lidas. Talvez seja um ritual que persiste por muitos anos, afinal, deu-se início aos 12 anos de idade, ainda tentando compreender a diferença da sonoridade do T e D. Por vezes retorno a me ler, a rever meus pensamentos, as ideias sem nexo, as opiniões que desfiz, aos esdrúxulos erros de português que até hoje tenho preguiça de corrigir, e aos meus próprios desencontros. Noto todos os contornos, linhas, expressões que expus, sempre com bastante intensidade, de quem segura o lápis em folha com tamanha força que quebra a ponta. Pois nos textos remei até à extremidade da minha alma, imersa num mundo abstrato, interior, alheia aos olhares de terceiros e ao mundo concreto. Escrevo, como alguém que está prestes a cair pela janela, segurando-se no rodapé, momento efêmero em que finjo ser escritora e não mais uma pessoa de vida medíocre, cotidiana, metódica.

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Eu sou tu

Como eu queria desenhar aquele teu sorriso estampado no rosto barbudo, os olhos comprimidos pelas bochechas vermelhas, sorriso incontrolável e de perfeita simetria, num dia de domingo a tarde. Como eu queria guardar o sentimento que senti ao te ver, embrulhado numa caixa de recordações. Ou melhor, mantê-lo vivo e dançante no peito. Como queria poder rever aquele sorriso sempre que precisasse, que a solidão tentasse se instalar, ou que uma novidade boa chegasse, ou simplesmente para reviver a nostalgia do momento. Porque és o amor que quero viver eternamente. É em ti que meu amor se renova e se firma mais bonito. Porque todos te enxergam em mim, como uma árvore de longas   raízes. Porque tu sou eu, e eu sou tu.