quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Momento "up"

O cenário estava conforme o esperado. Tanto tempo esperando esse contexto. Nós dois sentados num banco, sozinhos. Sem timidez, sem mágoas. Momento perfeito para o despejo. Despejo do que estava acumulado na garganta, o que remexia no estômago como uma boa e velha ressaca de sábado à noite. Com todas as palavras já pensadas e repensadas, estava preste a indaga-lo sobre o que ele queria, afinal, comigo. Era tudo ou nada. E nada mesmo.
E ali estávamos a sós em diálogos cordiais, até que em um momento o silêncio pairou... Era o momento da indagação. Ele nem desconfiava de minha ambição, e nem percebeu o contexto metricamente planejado. E aí olhei bem para ele, que se encontrava distraído em pensamentos alheios, repassei em segundos as falas, e de repente... Eis o momento “up”! Foi quando eu realmente “caí na real”, feito um piscar de olhos, percebi o quão dúbio era o que estava preste a cometer. Eu pronta para indaga-lo de seus sentimentos e ambições, a adentrar num território desconhecido e complexo demais. Mas como eu seria pretensiosa por querer coloca-lo na parede e intimidá-lo a me dar uma resposta curta e grossa, sem rodeios.
Naquele momento, por segundos, a questão havia sido invertida, ou seja, não era mais uma questão de saber se ele gosta ou não de mim, agora era uma questão de, será que eu gosto mesmo dele? Ou melhor, será que vale a pena? E olhando para ele a resposta da segunda pergunta foi “não”.  Por breves segundos tudo veio à tona, eu tinha chegado ao meu limite emocional. O meu desconforto não era mais a suspeita de ouvir um “não” dele, mas me fez temer pelo “sim” (afirmação de que gosta e pretende algo sério), pois eu não quero alguém tão confuso, ambíguo e sem atitude. O que ele tem a me oferecer do seu dia, do seu tempo e de seu sentimento é pouco demais.
É que essa história já deu o que tinha que dar, e não quero mais insistir. Nem esperar pelo o que não existe. Há tanta vida lá fora, não posso me prender a uma terra infértil. E naquele momento “up” tirei uma boa lição, bem diferente do planejado. E me senti mais segura, mais convicta, pronta para seguir adiante.